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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Hidrocarbonetos

     Vinha andando de cabeça baixa pela rua adjacente à principal, pisando nas poças deixadas pela chuva de agora pouco, que o fizera ficar por mais de meia hora parado sob uma marquise; e ainda lá se encontra seus pensamentos, lá mesmo onde fora obrigado a ficar, onde foram, obrigados a ficar  parados até o termino da chuva que por ele duraria toda a vida, ao menos sua vida inteira.
     Enquanto a chuva caia, fora dos domínios da marquise, lá onde estavam era tudo perfeito, a luz, o ar, o barulho da chuva, e até mesmo o banho que havia tomado para chegar ao abrigo que tinha inundado sua meia de água e agora com o nervosismo também de suor, parecia-lhe perfeito, na verdade tudo, exatamente tudo naquele momento era perfeito para ele; a não ser o medo que lhe causava olhar para o seu lado esquerdo, seu corpo tremia todo, não se sabe se era o frio ou verdadeiramente o medo que sentia; seu corpo estava rígido, imóvel apesar de tremulo como vara verde, seus olhos fixos defronte à rua mas, sua mente não se desviava daqueles lindo emaranhados magenta, ou será cor de fogo? ou laranja claro? de certo não sei, mas eram lindos fios enrolados como se fossem de telefone.

__ Que tipo de mensagens é transmitida de fato, por entre aqueles fios.
__ Me viro? _ não viro.
__ Nossa, que difícil! __ Como posso me aproximar? 

__ Aqui embaixo só tem a gente, o que ela pensaria se eu chegasse diretamente nela?_ sairia correndo gritando tarado e me batendo com aquela bolsa enorme que carrega?
__ Agora sim!
__ Vou me apresentar e dizer que sou Químico, professor de uma instituição respeitada ainda por cima.
__ Quem sabe assim passaria um pouco de confiança para ela poder conversar comigo?
__ Quem sabe ela até gosta de Química?
__ Bom dia!
__ Droga, bom dia não, boa noite!
__ Meu Deus, como é difícil!
__ Ah, deixa pra lá!
     O coração batia como mil tambores e cada vez mais rápido e sem ritmo, parecia uma locomotiva desvairada; cada segundo que passava era um segundo a menos para se aproximar da moça, cada gota de chuva que vinha ao chão era uma gota a menos a cair para perpetuar a chuva.
__ Não, agora não, meu Deus!
__ De onde é quem vem esse cara com esse guarda-chuva?
__ Não, não pára!
__ Droga, não diga que você o conhece?
__ Meu Deus! ele parou bem diante dela, será que vai leva-la de mim, tira-la do meu amor?
__ Nossa ainda bem, achei que iam se beijar, mas foi só no rosto, deve ser de comprimento mesmo, tipo: __ Oi!_ Oi tudo bem!
__ Ufa! nada até agora.
__ Devem ser apenas amigos, ou ele igual a mim se encantou com tal beleza e já pretendia oferecer uma carona; que graças a Deus foi recusada. 
__ Tchau para você também!
__ Humm! Sai pra lá que ela é minha viu!
__ Ou de minha contemplação ao menos enquanto durar a chuva.
__ Não, não pára! 
__ Deus, só mais um pouquinho, só até encher as represas e acabar com a seca no Nordeste.
__ Não pára a chuva agora nã.......
    Mas antes de terminar sua conversa com Deus todo poderoso, a moça já saia deixando a proteção da marquise e se molhando com os poucos pingos d'água que ainda caiam, e pouco a pouco se afastando; enquanto ele pensava: 
__ Droga! por que eu não li o que estava escrito na sua camiseta antes?

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